Deu no New York Times: a terceirização na capital do mundo e com o homem mais poderoso da Terra
Subcontratação na construção civil, trabalhadores em situação irregular, jornadas excessivas, sonegação de salários, esquivos de responsabilidade, tentativas de ocultação, depoimentos falsos. Não, isso não é o resumo de um típico processo trabalhista brasileiro.
A edição de ontem (27/11/17) do jornal NYT conta a história da demolição de prédio no centro financeiro de Nova York para construção de um arranha-céu espelhado, em 1980. Para redução de custos, a empresa de Donald Trump (então “apenas” um dos maiores investidores imobiliários dos EUA) terceirizou o serviço para empreiteiro inexperiente, o qual chamou trabalhadores ilegais e mal pagos para a labuta. A demolição seria feita na base de marretadas, jornadas de 12h a 14h e paga com míseros $ 4 a hora – tudo não documentado, escondido dos sindicatos e abaixo do mínimo.
Um dia, o empreiteiro deixou de pagar os salários e, em 1983, um dos operários entrou com ação judicial, que passou a tramitar como “class action”, procedimento que “coletiviza” o processo e beneficia colegas em situações análogas. As testemunhas disseram que Trump frequentava a obra, prometera assumir os encargos e pagar a todos. O agora presidente retrucou que raramente comparecia e não lembrava da parte da promessa. Seguindo a doutrina do “joint employer”, o juiz declarou a empresa de Trump a efetiva empregadora. Fundamentou que, ainda que não houvesse subordinação direta, a tomadora portava-se como destinatária da atividade laboral. A condenação chegou a meio milhão de dólares.
Em acordo entre as partes, o processo ficou em segredo. Até ontem. Uma corte de justiça de Nova Iorque decidiu levantar o sigilo e, aí… deu no New York Times.
Fica uma constante: mesmo se ocorrer na capital do planeta, ainda que o tomador de serviços for empresa multi-milionária e pertencer ao futuro presidente da República, a terceirização serve, mesmo, é para isso: pagar pouco, exigir trabalho inseguro e preparar indenizações milionárias. Aqui ou lá, ela está longe de ser um sucesso.
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