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artigo de jornal Correio do Povo “Combater o Trabalho Infantil” (12/6/2018)

Combater o trabalho infantil

Rodrigo Trindade*

No 12 de junho, casais comemoram o dia dos namorados, mas também é a data mundial de combate ao trabalho infantil. Ela chama algumas reflexões, notadamente sobre a real eficácia do trabalho precoce e o caminho que pretendemos trilhar na formação de nossos pequenos.

Precisamos separar regra de exceção. No sul do Brasil, costumamos nos orgulhar da cultura de trabalhar desde cedo, ocupando toda a família em atividades produtivas. Todos nós colecionamos lembranças de grandes profissionais que começaram desde muito jovens e conseguiram “vencer na vida”. Conforme pesquisa do IBGE, dos 10 municípios brasileiros com maior percentual de trabalho infantil, seis estão no Rio Grande do Sul – e essa não é estatística para comemorar.

No Brasil, a estimativa é de 2,5 milhões de crianças e adolescentes trabalhadores.

O trabalho precoce é cruel com acidentes e, a cada minuto, uma criança no planeta sofre acidente do trabalho. Dizer que “trabalhar não mata ninguém” está longe da verdade: em nosso país, nos últimos cinco anos, foram registrados 12 mil acidentes laborais envolvendo crianças e adolescentes e 110 foram a óbito.

O trabalho infantil também é frequente na escravidão moderna. Recentemente apurou-se que uma em cada quatro vítimas da escravidão é criança. No mundo todo, em 2016, foram 152 milhões de jovens entre cinco e 17 anos submetidos a trabalho forçado.

Além dos danos físicos e psíquicos – muitas vezes incuráveis – a marca mais profunda do trabalho precoce é a perpetuação de ciclo perverso de miséria, exclusão e evasão escolar. Todas as pesquisas demonstram que começar a trabalhar desde cedo aumenta – e muito – as chances de permanecer na pobreza e a falta de formação educacional.

Não é fácil, mas podemos evitar a sedução de simplismos como “é melhor trabalhar cedo que se entregar ao crime”. Há muito mais que essas duas opções. Se almejamos viabilizar projeto de país civilizado e com justiça social, devemos construir opções viáveis ao desenvolvimento sadio e pleno.

Se a juventude realmente é o bem mais valoroso de um povo, nossas crianças devem brincar, estudar e crescer saudáveis; não devem trabalhar.

*Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (AMATRA IV)

 

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