JUÍZES SERÃO ENCARCERADOS PARA AVALIAR PRISÕES

Rodrigo Trindade

Juízes serão enviados para a prisão, para melhor compreenderem a vida dos detentos. A Bélgica irá efetuar essa incomum experiência: mas de cinquenta magistrados voluntariaram-se para serem internalizados em uma prisão da região de Bruxelas, como forma de experimentarem as condições de detenção.

Os juízes chegarão no sábado, as nove horas, na prisão de Haren, um novo estabelecimento, com capacidade para 1.190 pessoas, e que deve ser inaugurado em 30 de setembro. Os julgadores deverão ser tratados como detentos “normais”, com idêntica alimentação, até o fim da operação, prevista para domingo, às 16 horas. Também serão encaminhados para trabalhos na cozinha e na lavanderia da casa de correção.

“Os magistrados saberão como as coisas se passam em uma prisão”, declarou o ministro federal Vincent VanQuickenborne, citado pelo Le Parisien, complementando que eles terão oportunidade única para compreensão da “pronuncia das penas, com todo conhecimento de causa”.  O ministro também explicou que os julgadores precisarão entregar seus telefones celulares, mas poderão receber visitas da família.

Nossa revisão

Qualquer vivência de imersão simulada é tendencialmente importante para melhor compreender a realidade imposta em decisões judiciais. Especialmente para pessoas com dificuldades de empatia. Trata-se, no entanto, de experimentação bastante reduzida sobre a efetiva realidade prisional. E não apenas porque ocorre na Bélgica, país que não mantém grandes e violentos contingentes de presos. Muito antes pelo contrário.

Primeiro, porque ocorre por período extremamente curto; segundo, observando-se que se desenvolve em prisão absolutamente nova; terceiro, em vista de não haver nem convivência com detentos reais, nem com carcereiros em contato com presos reais. Acreditar que esse final de semana seja o suficiente para já conhecer a vida em prisão pode levar a resultado completamente oposto ao pretendido.

De qualquer forma, a notícia faz lembrar o Experimento da Prisão de Stanford, em que Philip Zimbardo simulou ambiente prisional ao longo de uma semana. Depois de apenas um dia, os universitários que participavam da atividade, em geral pessoas agradáveis, estavam dispostos a agir de forma terrível contra aqueles sobre quem tinham controle. Com base nessa experimentação, o filósofo Julian Baggini desenvolveu estudos muito interessantes e que o levaram a concluir que temos uma confiança desmedida no caráter – e que a essência mais acurada de qualquer pessoa se mostra, mesmo, é a partir do teste das circunstâncias.  

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