QUANTO VALE A VIDA HUMANA?

Rodrigo Trindade

O título já diz muito, especialmente o original What is life worth?”. Na produção da Netflix, estrelada por Michael Keaton e Stanley Tucci a pergunta está sempre presente, na boca dos personagens e na mente dos telespectadores: o que é o custo da vida humana perdida?

“Quanto Vale” entra no embalo dos diversos filmes e documentários no aniversário de 20 anos do ataque terrorista às Torres Gêmeas. Mas aqui, o enfoque flerta com a filosofia e trata dos procedimentos do governo americano para pagar indenizações individualizadas pelos cerca de sete mil mortos nos atentados.

O filme chama especial reflexão para quem precisa precificar indenizações por morte, especialmente nas profissões jurídicas. Gostamos de pensar que uma vida humana não tem preço pois seu valor não pode ser estabelecido em números. Mas tem preço financeiro, sim, especialmente quando há necessidade de se decidir sobre valores dos ressarcimentos por óbitos.

A história acompanha o trabalho de dois anos, liderado pelo advogado Ken Feinberg (Michael Keaton), nomeado pelo Congresso Americano para definir critérios de indenizações por morte, aprofundando-se em seu relacionamento com a equipe e com as famílias das vítimas. E, tudo isso, no desenrolar de um dos momentos mais dramáticos da história recente dos EUA, em que luto se mistura com forte sentimento nacional de vingança.

Feinberg é um cartesiano professor e advogado, experiente, acostumado a reconhecer e precificar vidas perdidas, em ações de responsabilidade civil. Não é que seja um homem insensível, bruto; é um cara normal do Direito, que chega na função, motivado para encontrar fórmulas mais ou menos justas, com critérios claros, e suficientes para evitar longos, milionários e improdutivos processos judiciais. Formalmente, trata-se de justificação para garantir segurança jurídica e tratamento equânime; subjetivamente, um necessário amparo de distanciamento para quem fixa valores. E o advogado não está disposto a desistir disso.

Em grande parte, o filme conta uma espécie de jornada de reconhecimento do protagonista. Ao avaliar os casos concretos, Feinberg vai percebendo que a realidade é muito mais complexa que suas planilhas, e vê-se forçado a encarar questões imprevistas. A precificação da dor de cada luto é apenas uma delas, mas há muito mais, como a avaliação de relacionamentos homossexuais escondidos, uniões estáveis recentes e relações extraconjugais duradoras.

As reações das famílias das vítimas também é carregada de grande carga emocional. Ao mesmo tempo em que se esforçam para mostrar que a definição de valor financeiro para indenizar vida humana pode parecer ofensivo, exigem que os montantes sejam adequados. Ao longo do filme, vai-se percebendo que não se trata de contradição ou ganância, mas há uma justificação mais profunda e universal.

No fundo, o que as famílias enlutadas pretendem é o reconhecimento do valor de seu ente querido, que seja visto como pessoa única, insubstituível, a partir da percepção das suas incomparáveis singularidades. E o abrandamento da dor só pode ser alcançado a partir de demonstração sincera por quem define os números. Enfim, mais que somas financeiras, pretendem ver empatia, sensibilidade e compartilhamento.

Quanto vale uma vida humana? Talvez o problema esteja na pergunta e definir com um “cada específica” vida humana faça valer muito mais. Filmaço.

Trailer

Ficha técnica

TÍTULOQuanto Vale?

TÍTULO ORIGINALWhat Is Life Worth

GÊNERODrama

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA+14

DURAÇÃO118 min

ANO DE LANÇAMENTO2021

ANO DE PRODUÇÃO2020

PAÍSEUA

DIRETORESSara Colangelo

PRODUÇÃOMax BorensteinMarc ButanBard DorrosAnthony KatagasSean SorensenMichael Sugar

ROTEIROMax Borenstein

ELENCOMichael KeatonStanley TucciAmy RyanTate DonovanTalia BalsamLaura BenantiMarc MaronBruce Soscia

O FILME ÉAfetivoAmargoCativanteVerossímilIntensoRealistaReflexivoTristeSensívelForte

PERFILBaseado em fatos reaisPolíticaPsicologíaSocial

SOBREComportamentoTribunalCrimeHumanitarismoJustiçaVidaPolíticaSociedadeTerrorismo

ORIGEMNorte-americano

DISPONIBILIDADENetflix

FESTIVAISSelecionado e/ou exibido no Festival de Sundance

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